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Taekwondo & MMA

Taekwondo: um novo passo para o MMA

O recente aumento de popularidade das artes marciais mistas (MMA, na sigla em inglês) através da difusão do UFC pelo mundo tem gerado também uma maior visibilidade para as principais artes marciais praticadas pelos atletas em evidência nesse esporte.

Entre as modalidades de maior destaque no mundo do MMA estão algumas já renomadas no Brasil como jiu jitsu, muay thai e boxe, e outras nem tanto, como o wrestling (luta greco-romana), que possui grande popularidade nos Estados Unidos, principalmente através dos torneios universitários do país. Até mesmo o caratê – que vinha um pouco esquecido no Brasil – teve seus momentos de glória no maior torneio de MMA do mundo através das conquistas do brasileiro Lyoto Machida.

Contudo, uma arte marcial até então pouco comentada no mundo das artes marciais mistas tem ganhado destaque recentemente pela plasticidade de seus golpes e pelo jogo diferenciado que proporciona a seus praticantes: o taekwondo.

Essa arte marcial sul-coreana originou um dos golpes mais plásticos já desferidos em um torneio de artes marciais mistas. A luta aconteceu em dezembro de 2010, pela última edição do WEC (World Extreme Cagefighting), antes de esse torneio fundir-se com o UFC. Nela, dois atletas praticantes de taekwondo protagonizaram um combate extremamente ágil e técnico pela categoria dos meio-médios (70-77kg). Os lutadores eram Ben Henderson (1º Dan de tkd) e Anthony Pettis (3º Dan de tkd), sendo que este último sagrou-se vencedor por pontos. O ápice da luta, no entanto, foi um sensacional chute lateral de direita de Pettis, desferido após ele ter corrido, pulado e se apoiado na grade para pegar impulso e chutar. Timing, distância, precisão, velocidade e potência: o chute de Pettis foi uma mini-aula de taekwondo.

No ano passado, no UFC Rio2, o público aplaudiu de pé o sensacional nocaute do brasileiro Edson Barboza sobre o inglês Terry Etim, através de uma giratória de calcanhar com a perna direita direto na lateral da cabeça do adversário, que caiu já desacordado.

Apesar de Edson ser um atleta oriundo do Muay Thai, ao comentar sobre seu golpe, ainda no octógono, ele disse que fintou um ‘titchagui’ – golpe clássico do taekwondo que consiste basicamente em um coice – para enganar seu adversário e então desferir a giratória clássica do taekwondo, onde é chamada de ‘mondolhô’.

No passado, muitos outros atletas de renome no mundo das artes marciais mistas já incluíram o taekwondo em seus treinamentos e obtiveram grandes resultados com isso, como o suíço Andy Hug e o holandês Bas Rutten. O turco Serkan Yilmaz foi um dos grandes atletas de MMA vindos do taekwondo, tendo realizado muitos nocautes semelhantes ao de Edson. O croata Mirko Crocop, apesar de não treinar taekwondo, provou a eficiência dos chutes também entre os pesos pesados.

Entre os lutadores de destaque na atualidade, o brasileiro Anderson Silva, considerado o melhor peso por peso do UFC e detentor do recorde de defesas de cinturão do torneio, começou sua vida de lutador no taekwondo, esporte qual é faixa-preta, tendo declarado publicamente que deseja disputar as Olimpíadas de 2016 na modalidade.

Os conhecimentos de taekwondo de Anderson certamente contribuíram para seu sensacional nocaute sobre Vitor Belfort, pelo UFC 126, com um chute de ponta da sola do pé esquerdo direto no queixo. Esse chute foi praticamente um divisor de popularidade do MMA no Brasil.

A grande repercussão das lutas citadas prova que o público tem mostrado ser ávido não apenas por eficiência, mas também pelo apelo visual de golpes. O chute voador de Lyoto contra Randy Couture pelo UFC 129 também foi um dos nocautes mais comentados dos últimos tempos e, apesar de ter sido um golpe típico do caratê, é também comumente praticado por lutadores de taekwondo.

Além da plasticidade de seus golpes, o taekwondo traz artifícios que faltam em muitos lutadores, como um melhor controle do timing e distância, características que também são muito bem trabalhadas no caratê shotokan, que é o estilo de Lyoto Machida. O taekwondo, no entanto, possui um jogo de steps, mobilidade e precisão diferenciados, que vão muito além apenas dos chutes de que tanto se comenta. Essas características, se trabalhadas para gerar a contundência necessária aos torneios de artes marciais mistas, podem gerar resultados fulminantes, tanto em termos de resultados como de audiência.

O Brasil já provou ser um dos grandes expoentes do taekwondo moderno e tem profissionais qualificados que poderiam trazer enormes contribuições para os lutadores de MMA. Quem for pioneiro nessa transição poderá estar criando uma nova linha de campeões, que serão tão eficientes no combate quanto na venda de pay-per-views, que é algo que também faz parte da nova realidade do MMA. Fica ai a dica para treinadores, lutadores e organizadores de eventos.

Wellington Miyazaki é jornalista e faixa-preta de taekwondo pela Academia Butantã TKD

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